Vama Veche, a praia hippie romena

Vama Veche, a praia hippie romena

Vama Veche é um dos destinos imperdíveis para quem visita a Roménia e tem alma de hippie. Quem gosta de liberdade, de não-conformismo, que aceita e gosta de observar a diversidade humana presente ao seu redor. É um sítio único, como nunca encontrei nas viagens que fiz até agora.

Enquadramento histórico e geográfico

Vama Veche é de facto uma aldeia na praia. O seu nome traduz-se em ” A fronteira antiga”, pois situa-se na fronteira com a Bulgária, é a última localidade romena, antes de entrar na Bulgária.

mapa Roménia

Fonte : Worldmeters.info

Nos anos 1970, durante o comunismo, começou por ser um destino turístico “non-mainstream” frequentado por intelectuais, músicos especialmente amantes de música rock, folk, punk, góticos, pessoas boémias em geral. Não havia hotéis nem outro tipo de alojamento, as pessoas acampavam na praia ou alugavam quartos nas casas dos pescadores. Era um refúgio durante um altura em que existia censura de expressão.

Em 1988 Elena Ceausescu passou pela aldeia no caminho para a Bulgária e achou que não era esteticamente bonita. Por causa disso deu ordens para a demolir. Ainda foram abaixo várias casas, a escola e a igreja. Felizmente, em 1989 chegou a revolução e o processo parou a tempo.

Depois da revolução começou a ficar cada vez mais conhecida e com o tempo, abriram inúmeros restaurantes, bares e alojamentos locais. Ficou na moda e cada vez começaram a aparecer também pessoas que não tinham nada a ver com o espírito boêmio inicial. Construiu-se a autoestrada que faz a ligação de Bucareste a Constanta, uma cidade porto no Mar Negro, e a partir daí Vama Veche, tal como as outras estâncias de praia, tornou-se um destino de fim de semana para os habitantes da capital romena.

A primeira vez que levei o meu marido às praias romenas para as conhecer, ele identificou-se logo com Vama Veche e passou a ser um dos nossos destinos preferidos na Roménia. Não vamos todos os anos, pois geralmente só estamos na Roménia 2 semanas por ano, mas transformou-se num plano B fantástico : quando está demasiado calor para visitarmos cidades ( estamos a falar de temperaturas acima de 35 graus) ou até montanhas, vamos uma semana para Vama Veche.

vama veche

Quando ir?

A Roménia é um país com clima temperado continental e com amplitudes muito grandes de temperatura, com verões muito quentes ( a chegar aos 36- 40 graus C na maior parte do país; temperaturas até 10 graus mais baixas no litoral) e invernos muito rigorosos ( com temperaturas negativas até -20 graus C).

A época balnear no Mar Negro começa oficialmente no dia 1 de Maio, existindo uma tradição dos estudantes irem em massa, de comboio, para o litoral festejar o início do verão. Mas, na prática, a maior parte dos bares e restaurantes só abre durante os fins de semana e em pleno, só a partir do final de Junho e até ao início de Setembro.

Este ano nós fomos de 16 a 24 de Junho e quando chegamos estava muito pouca gente, os alunos ainda não estavam de férias.

Noutro ano fomos no início de Setembro e lembro-me que na segunda semana de Setembro havia muitos bares de praia já fechados e a prepararem-se para o inverno ( por causa dos ventos fortes fechavam as entradas com tábuas de madeira ).

Onde dormir?

Basta procurarem no Booking ou no Airbnb e conseguem encontrar uma infinitude de alojamentos para todos os bolsos. Depois, é óbvio, se entrarem em contacto diretamente com eles, conseguem preços ainda mais baixos.

Nós geralmente procuramos um sítio com cozinha partilhada e com frigorífico, onde podemos tomar o pequeno almoço e preparar refeições ligeiras, como saladas, por exemplo. Existem muitas casas construídas para os turistas, com quartos com casa de banho própria e com cozinha comunitária e uma zona ao ar livre de refeições e de lazer.

Este ano escolhemos a Casa Erika ( a foto em baixo) e porque fomos praticamente antes do início da época alta, tivemos pouca gente conosco ao mesmo tempo, nos 8 quartos do alojamento. Fica numa zona tranquila, numa rua com casas de um lado e campo de girassóis do outro, um pouco longe da confusão do centro, mas por isso sossegado. Os donos foram muito simpáticos e prestáveis, têm 2 filhos e os seus empregos a full time ( ela enfermeira, ele trabalhava no exército), pois o alojamento só funciona durante os 3 meses de verão. O quarto era bastante grande ( cabia a nossa cama e o sofá cama para os meninos e mesmo assim ainda sobrava espaço), estava tudo muito limpo e bem cuidado e havia 2 cães muito simpáticos, 2 gatos e 3 ou 4 tartarugas. Os meninos adoraram!

campo girassois vama veche

Mas de facto há alojamentos para todos os bolsos e preferências, desde pelo menos 2 hotéis com regime “All inclusive”, hostels com condições mínimas e com casa de banho partilhada, até campismo selvagem na praia, proibido, mas mesmo assim permitido e não punido por lei.

O que comer?

Há imensos sítios onde podem comer, desde pequeno almoço ao jantar, tanto restaurantes como street-foods, estes últimos sendo os nossos sítios preferidos.

restaurante peixe vama veche

Cherhana, restaurante de peixe na praia

Em relação à comida em si, há muito peixe fresco, o mais conhecido sendo “Hamsii”, uma espécie de anchovas pequenas, geralmente fritas na chapa. Há também sopa de peixe, muito diferente da sopa portuguesa, pois as sopas romenas são de facto um caldo com pedaços de legumes e tomate.

Na categoria de Street food, recomendo experimentarem as várias casas de Panquecas (Clatite), tanto doces como salgadas, algumas delas bastante gigantes. Depois há os Kebaks e as Shaormas, os Souvlakis ( uma especialidade grega de espetadas de carne), sandes, pizza, maçarocas de milho grelhadas ou cozidas, bares de sumos naturais, outros de café e Frappé ( café com gelado e chantilly). Outras cadeias que não existem em Portugal são Luca e Matei, umas pastelarias de rua com variedades tanto doces como salgadas e com vários tipos de massas e recheios, desde compota de fruta, nutella, maça, vários tipos de queijo, de carne etc.

Comer pizza na praia / Sasa, um dos restaurantes mais antigos de praia

La Canapele / La Frontiera, outros 2 dos primeiros restaurantes a abrir em Vama Veche

la canapele 2 vama veche

La Canapele 2, outro restaurante de praia em cima, com barracas de street food em baixo ( na foto, ainda fechados), geralmente com música ao vivo.

Atividades, o que fazer?

  • Ir à praia todos os dias. A temperatura do ar é geralmente abaixo dos 30 graus e a água tem entre 22 e 25 graus C. Nós apanhámos nos primeiros dias o mar com água muito calma e sem ondas e depois vários dias com ondas e em geral mais agitado.
  • Há também uma zona de nudistas, numa das pontas da praia, se tiverem interesse.
praia vama veche

A primeira vez do Diogo em Vama, perto da zona de nudismo. Também podem ver as tendas acampadas na praia.

  • “Pastar” nas inúmeras esplanadas da praia. Ouvir música, estar na sombra e beber uma bebida fresca. Eu fiquei fã do Frappé, mas é curioso porque não é uma bebida que normalmente bebo no meu dia a dia, mas ficou uma espécie de tradição em Vama Veche.
la stuf, vama veche

Stuf, uma das primeiras esplanadas/bares de praia de Vama Veche, aberta 24 horas, geralmente a passar música rock. É a nossa zona preferida de fazer praia, em frente ao Stuf, onde podemos curtir tanto o sol, o mar, como as músicas da nossa juventude.

esplanada vama veche
plaja de carte vama veche

Plaja de carte / La biblioteca – para nossa grande tristeza, este ano esta esplanada tinha sido demolida, mas era bem bonita e tinha uma boa vibe e boa música. Também tinha uma pequena biblioteca de praia, onde se podiam alugar livros.

  • Acordar às 6 da manhã e ver o nascer do sol na praia.
  • Passear e observar os murais pintados e as pessoas em geral. Há algumas coisas que mudam de ano para ano e embora não consigamos ir todos os anos, gostamos de dar um salto de vez em quando e ver as novidades. Em 2022, por exemplo, havia na praia este banco que aparece na fotografia em baixo e também um piano.
praia vama veche
piano vama veche
praia vama veche

Nascer do sol em Vama Veche

mural vama veche

Pintura mural numa das ruas do interior da aldeia

jaguarul vama veche

“O Jaguar de Vama Veche” – um cantor de rua que passa o verão em Vama a tocar para os turistas.

  • Ir de carro para a Bulgária – perto da fronteira com a Roménia há uma estância muito conhecida, Balcic, onde para além da praia, podem visitar o palácio e os jardins que pertenceram à rainha Maria, quando este território fazia parte da Roménia.
  • Passear à noite e acabar no Stuf, a ouvir música dos anos 80 e a dançar até tarde.
balouiço vama veche
noite em vama veche
  • O Festival de Tiny Houses – aconteceu este ano durante a nossa estadia em Vama Veche. Uma exposição de várias empresas que oferecem os seus serviços de construção e transporte de vários tipos de casas pequenas, um fenómeno que está a explodir na Roménia ultimamente, especialmente nos sítios mais remotos das montanhas. Serviu para sonhar um pouco com o que o futuro nos pode trazer! 🙂
tiny house vama veche

Antes de finalizar, gostava só de deixar aqui um desclaimer:

A Vama Veche não é para todos os gostos!

  • De facto, como disse várias vezes em cima, é só uma aldeia, onde apenas algumas ruas são alcatroadas, as outras todas são caminhos de terra. Por isso sim, há muita areia e muito pó ( é aconselhável andar sempre de chinelos ou com as sapatilhas mais antigas que tiverem)
  • Nas ruas do centro e na praia há música muito alta ( e infelizmente não só a dos anos 80) durante a noite toda e nos meses de julho e agosto muita confusão – daí, se poderem, escolher um alojamento mais afastado se quiserem descansar
  • Por causa do pó e das noites de festa há muito lixo que nem sempre é recolhido a seguir
  • Vão encontrar muitas “personagens” : algumas pessoas sozinhas ou grupos que vêm passar o verão em Vama Veche a dormir na rua e que geralmente estão sempre alcoolizados ou drogados. Podem se meter convosco para pedir dinheiro ou comida, mas não são violentos
  • Os preços da comida são muito elevados, comparados com o resto do país.

Em conclusão, apesar da Vama Veche ter mudado muito nos últimos anos por ter ficado cada vez mais conhecida / comercial e por ter sido invadida por hotéis e discotecas, que descaracterizam o seu espirito original, continua a ter muita aderência do publico mais alternativo romeno ( ainda há poucos estrangeiros que a conhecem) que gosta de ir cheirar o que outrora foi um sítio de escape e de liberdade!



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